Diversão escondida

Hot Rod

“Não gosto muito de oba-oba, não”, ouve-se, dito por entre os dentes. O responsável pelo departamento comercial da Diamanfer e sócio da empresa, José Pedro Ruiz, faz um pouco de mistério sobre seu hobby. A discrição contrasta com seu objeto de satisfação, também cautelosamente guardado em uma garagem na região do ABC Paulista: um belo Hot Rod vermelho, réplica de um Ford F-32, que é atração de eventos de antigomobilismo e até já apareceu em novela.

O empresário é um dos milhares de amantes da cultura Hot Rod espalhados pelo mundo. Essas máquinas são carros americanos das décadas entre 1920 e 1950, modificados com grandes motores [preferencialmente os V8] e design mais agressivo que o original, de acordo com o gosto do dono. No caso do bólido vermelho, é um carro totalmente novo, com carroceria em fibra de vidro e mecânica atual: além do emblema original da Ford no capô, “só sobrou o documento”, diz Pedro.

O trabalho de construção de um Hot Rod é totalmente artesanal: o F-32 demorou três anos para ficar pronto – e ainda assim não está totalmente do jeito que José Pedro quer. Com o dinheiro do aluguel do carro para a novela “Vende-se Um Véu de Noiva” do SBT, ele já encomendou uma coluna de direção especial diretamente dos Estados Unidos. A direção que usa atualmente veio de um Chevrolet Impala – o que denota que o purismo de marca não é uma regra nessa categoria de carros modificados.

Colocando no papel, parece até mesmo que estamos falando de um veloz Frankenstein: o carro é um Ford, o diferencial é derivado dos Chevrolet Ômega que corriam na Stock Car, os freios são do Ômega de rua, as lanternas são inspiradas no Pontiac 1950, o radiador de alumínio foi feito à mão e os amortecedores são especiais para competição. Fato é que, ao contrário do que parece, o improviso passa longe deste e da grande maioria dos Hot Rods: tudo é bastante planejado e o resultado é de um esmero ímpar. “Um Hot Rod nunca fica pronto. Demorei três meses só pra definir a chave de seta”, conta o empresário, enquanto mostra a alavanca de câmbio atrás do volante, com a ponta em formato de pistão: “essa eu usinei aqui na fábrica, mesmo”.

Galeria de fotos:

O motor V8 é um capítulo a parte: veio de um Ford Mustang 1995 batido, que rodou apenas 11.000 km antes de dar perda total. Originalmente, a usina de força rendia 213 cavalos, mas com a troca da injeção eletrônica por um carburador de corpo quádruplo e outros ajustes, a potência subiu para quase 260 cavalos. Com o assoalho quase grudado ao chão, pneus largos e a preparação superdimensionada de suspensão, transmissão e motor, o comportamento do F-32 Hot Rod nas ruas é agressivo como um carro de corrida, com arrancadas imediatas e, como previsto, problemas com desníveis e sarjetas entre uma rua e outra, no asfalto ruim da Grande São Paulo. “O Hot Rod é isso: é ter uma coisa que você não vai usar”, exagera Pedro.

Paixão à primeira [e segunda] vista
Em uma estante do escritório de José Pedro, já fica bem claro o seu hobby preferido: várias revistas sobre carros preparados e sete miniaturas de caminhonetes clássicas com visual “malvado”. Uma delas, a Ford F-1, é igual a que o empresário tinha em 2001, e que manteve original por falta de tempo para se dedicar a um possível projeto. Ficou dois anos com ela, antes que um comprador aparecesse com dinheiro vivo na mão e uma plataforma pronta pra levá-la embora.

O F-32 começou a ser construído no final de 2006, mas José Pedro ainda não fazia parte do processo. Foi depois de um encontro de carros antigos em Águas de Lindóia que aflorou novamente a vontade do empresário de embarcar na aventura de customizar um Hot Rod pra si. Convenceu o mecânico Donizete Costalonga, especializado em Hot Rods, a vender o chassi e construir o carro do seu jeito. Foram três anos de trabalho duro em conjunto, enfrentando dificuldades para escolher, adaptar e importar peças, sem contar o orçamento necessário em uma empreitada dessas. “Se alguém me oferecer no carro o valor que eu gastei, digo ‘não, faz um pra você’”, declara José Pedro. “Eu já tive proposta alta por ele, mas eu não aceitei porque não teria disposição de fazer outro igual. Mesmo porque não existe um Hot Rod igual ao outro”.

Além de ter aparecido em novela, o F-32 de José Pedro já foi matéria de duas revistas especializadas no assunto e atração em vários encontros de Hot Rods – inclusive naquele em que teve sua paixão “reacesa”, que hoje é promovido na cidade de Serra Negra. E, claro, Pedro faz roncar seu V8 pelas estradas paulistas. Nada de reboque – e, de preferência, nada de teto, que é removível, para curtir o vento no rosto. O empresário aproveita ao máximo os pequenos momentos de prazer para contrabalançar a ansiedade em concluir as obras da Diamanfer em Atibaia. Não vê a hora de sair do transito, da insegurança e ganhar qualidade de vida. “Estou construindo minha casa lá, também. É tudo mais fácil. É outro mundo. Diferente de você entrar em um apartamento e se trancar lá dentro. Vai ser difícil mudar, mas vai valer a pena”, acredita.

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