Aprenda a produzir um vitral composto por peças de vidros decorativos criados a partir da técnica de fuzing-glass.
Acompanhamos passo a passo a produção de uma pequena peça que compõe um vitral contemporâneo, produzido com a técnica de termo-fusão, mais conhecida como fuzing-glass. A reportagem foi feita no bairro da Barra Funda, em São Paulo (SP), no ateliê do artista plástico Gustavo Benini.
Embora alguns vitralistas não considerem a técnica utilizada por Gustavo como um vitral, defendendo que para isso seja preciso a centenária técnica de juntar as peças de vidro com chumbo, o resultado final da inovação é bastante decorativo e bem aceito por arquitetos e designers de interiores.
Discussões à parte, a técnica permite explorar diversos recursos extras, como a criação e a utilização de vidros com microbolhas, vidros dourados, vidros prateados e até luminescentes.
Gustavo explica que sua técnica reproduz os seculares vitrais com uma releitura mais leve e decorativa. Acompanhe todo o processo.
Passo a Passo: 01 ao 10
PASSO 01
Primeiramente é feito um esboço da arte e passado para a aprovação do cliente. O trabalho que acompanhamos, com tema de árvores, foi aprovado pelo departamento de arquitetura da Prefeitura de Americana (interior paulista). Ele é composto por uma porta com 3 metros de altura, 12 divisórias e 12 janelas.
PASSO 02
Após a aprovação do esboço, é feita a reprodução de cada peça no tamanho 1 por 1, ou seja, no tamanho em que vai ser produzido, sobre papel kraft.
PASSO 03
Para a demonstração para a revista, Gustavo produziu uma única lajota em um pedaço pequeno de papel kraft, para facilitar a visualização.
PASSO 04
Utilizando o desenho no papel kraft em tamanho natural, desenha-se na parte posterior do vidro (float com 3mm de espessura) as partes que comporão o desenho com caneta para retroprojetor.
PASSO 05
Tanto as partes desenhadas no papel Kraft quanto as desenhadas no vidro devem ser numeradas para facilitar a montagem final e evitar que o trabalho se transforme em um quebra-cabeças.
Utilizando-se de um cortador comum, deve-se recortar e destacar cada uma das partes do desenho.
Em seguida, prepara-se as tintas hidratando-se os pigmentos naturais com cola tipo CMC. Essa técnica constitui-se em um dos segredos do negócio, que é ensinada no ateliê de Benini através de cursos. O artista também vende tintas já hidratadas.
Benini desenvolveu diversos tipos de tintas para vidros, incluindo tinta composta por ouro e tinta cor bronze, entre outras.
Preparadas as tintas, passa-se para a fase de limpeza dos vidros, para remoção de gordura e do querosene do vidro, sem remover, entretanto, as marcações do verso do vidro.
Os galhos da árvore, de cor bronze, são pintados na cabine de pintura,com a ajuda de um compressor de ar e um aerógrafo.
Passo a Passo: 11 ao 20
Algumas peças, como as folhas, no caso, tiveram os traços pintados manualmente, com pincéis e, somente depois, foram para a cabine de pintura onde foi feita a cobertura de uma segunda tonalidade verde com aerógrafo.
Depois de serem pintadas, as peças seguem para uma pequena estufa de secagem, onde ficam por 20 minutos.
Um vidro maior é utilizado como base para utilização da técnica de sobreposição de vidros.
Nessa base é aplicada cola CMC e, com uma peneira, um pigmento mineral especial que, quando levado ao forno, cria microbolhas no vidro, produzindo um filtro de luz diferenciado.
Separa-se de lado esse vidro com o pigmento mineral aplicado para ser utilizado depois.
Limpam-se as peças retirando-se o excesso de tinta aplicada. No caso da tinta cobre metálica é preciso utilizar um pedaço de palha de aço, devido à maior aderência dessa tinta.
Em um segundo vidro base é feita a montagem da imagem. Para isso o vidro é limpo e posicionado sobre o papel kraft com as marcações.
Em seguida, remove-se as marcações de caneta hidrocor e cola-se, utilizando-se a cola CMC, as peças nas suas posições definitivas.
Essa colagem é feita para levar a peça ao forno simplesmente. No processo de fusão é que ocorre a aderência definitiva.
Na preparação do forno para receber a peça é utilizado o desmoldante caulim, que tem ponto de fusão maior que o vidro e evita que este se fixe no fundo do forno, produzido com fibra cerâmica. Gustavo Benini, inclusive, presta assessoria para montagem de fornos de fuzing.
Passo a Passo: 21 ao 26
O vidro com as peças coladas é posicionado sobre o primeiro vidro base, com o pigmento mineral especial, tomando-se o cuidado de não remover o material.
Em seguida, todo o conjunto é levado
ao forno. Neste caso, como se tratava apenas de uma demonstração, uma única peça foi posicionada.
O forno enfim é fechado e a peça submetida à temperatura superior a 800 graus centígrados por 50 minutos. Depois são necessárias mais 12 horas até o resfriamento completo.
Ao se retirar a peça final do forno se observa que a parte de fundo ficou semi-transparente com microbolhas e as tonalidades verdes das folhas e o caule bronze ficaram mais evidentes e com mais brilho.
Para instalação no local e produção das janelas, portas e divisórias, cada peça (lajota) foi fixada com cola UV sobre os vidros temperados. Para se ter uma ideia do trabalho exigido, cada janela utilizou 12 lajotas iguais à que acabamos de acompanhar a produção.
O resultado final da obra agradou os responsáveis pela reforma do Velório Municipal de Americana.