Fabricantes de resina focam no relacionamento pessoal; laminadores investem nas aplicações especiais do material
O processo de laminação com resina permite a fabricação artesanal do vidro laminado devido a sua simplicidade de operação. É mais recente que o PVB e foi adotado principalmente pelas empresas de pequeno e médio porte do setor. Possibilita a criação de uma variedade maior de produtos com relação ao PVB, como o vidro craquelado e a laminação em vidro impresso com a face impressa virada para dentro.
Existem dois tipos básicos de resina: as que possuem base acrílica e as que possuem base em poliéster [também chamada de resina bi componente]. Quanto ao processo, elas diferem principalmente no processo de cura. As resinas de base acrílica, como a Kodiguard UV [Chemetall] e a Uvekol [Cytec], são curadas a frio em poucas horas por meio de mesa com lâmpadas que emitem raios ultravioleta; enquanto as resinas à base de poliester, como as Astrocure [Effectus], e as Fostersglass [Foster’s], são curadas em uma temperatura média de 25°C a 30°C durante um período maior de tempo: entre 4h e 24h.
Com relação às normas de segurança que os laminados procuram atender, os fabricantes afirmam que os vidros resinados possuem as mesmas características e atingem os mesmos resultados de eficiência que os laminados de segurança com PVB. Alguns produtores com resina destacam até maior resistência em determinadas aplicações. No entanto, produtos adulterados e produtores desleixados que se aventuraram nesse mercado prejudicaram a credibilidade do produto, que já sofre para defender sua fatia frente aos produtores com PVB.
Mas vidraceiros, laminadores e fabricantes de resina rechaçam as acusações, defendendo as qualidades dos dois tipos de resina com veemência, afirmando que ela é capaz de atender a aplicações específicas que o PVB não faz.
Caseiro, não: artesanal
Indicada para laminadores iniciantes ou com poucos recursos, a laminação com resina permite uma fabricação bastante artesanal, que, quando bem executada, gera um produto final de qualidade. Tudo depende do esmero e da aplicação do operador, e do armazenamento e manuseio correto das matérias-primas. Eis uma breve explicação dos passos do processo com resina bicomponente em poliéster, que é básico.
Os fabricantes sublinham que o sucesso todo da operação depende do primeiro passo: a limpeza do vidro, obrigatoriamente com álcool isopropílico. Em seguida, vem a aplicação da fita dupla-face, que vai unir os dois vidros. Deve-se permitir duas aberturas, uma para a saída do ar e vedação do silicone. Depois, são colocados espaçadores nas extremidades e a outra placa de vidro é colocada por cima, compondo o conjunto. Fixa-se o conjunto em grampos e retira-se a proteção das fitas, unindo os dois vidros. Somente depois dessas operações é que se deve tirar a resina do tambor.
Em mesa basculante inclinada a 45°, injeta-se a resina no vão do vidro através de uma calha de alumínio. Coloca-se a mesa em posição normal novamente para que a resina se espalhe por todo o vidro. No caso de surgimento de bolhas que fiquem longe da borda, é possível mesmo assim retirá-las com seringa. Retira-se a calha de alumínio e a proteção da fita antes da selagem das bordas com silicone ou pistola de melk (ou cola quente). A cura do vidro deve durar de duas a quatro horas em uma mesa de descanso, com temperatura média de 25°C a 30°C. Apesar de a cura total se dar em 24 horas, sua instalação pode ser feita antes, dependendo do uso que será feito.
Já a laminação com resinas em base acrílica [de cura com raios UV] exige mais cuidados e equipamentos para a operação e cura, mas poucas mudanças no procedimento geral. No caso de vidros grandes ou espessos, ao invés de duas aberturas para a saída do ar, é necessária apenas uma. A injeção de resina é realizada pela bomba peristáltica, que evita a evaporação de componentes importantes – a laminação manual é proibida pelos fabricantes, pelo risco de delaminação que o vidro correria pelo contato demorado da resina acrílica com o ar. A Cytec, por exemplo, exige que se use somente equipamentos aprovados por ela.
A cura acontece por uma mesa [ou forno] especial com lâmpadas que emitem raios UV. Todas as lâmpadas devem estar funcionando corretamente e o vidro deve sofrer a emissão de UV por igual. Na ocorrência da laminação de vidros que filtrem esse tipo de radiação deve-se regular o equipamento para essa operação. O tempo de cura fica entre 20 e 25 minutos, dependendo da espessura das chapas. Mas o diretor de vendas e marketing da Cytec, Alberto Matera, faz uma observação: “O uso das resinas Uvekol exige técnicas especiais, que se não seguidas podem levar a um desempenho inferior. Sempre que um caso ocorre a Cytec busca os motivos e define uma ação corretiva”.
As empresas que utilizam a resina da Cytec são acompanhadas de perto pelamultinacional. Preocupada com a imagem de sua resina UV no mercado, emite certificados aos fabricantes que atendem às suas especificações de produção. Ao produto final destes oferece garantia de cinco anos.
Vidros curvos e aplicações especiais
Em qualquer um dos dois tipos de laminação com resina, é possível se chegar a alguns resultados que o PVB ainda não consegue. A resina pode atender a pedidos que seriam inviáveis para grandes laminadores – que não vão ligar uma autoclave apenas para uma pequena demanda de vidros especiais. “O processo de laminação com as resinas Uvekol permite a laminação de vidros em alta ou baixa escala. Ou seja, é adequado até mesmo para a produção de um único vidro, sem perdas de material ou consumo excessivo de energia”, garante o diretor de vendas e marketing da Cytec, Alberto Matera.
Por sua vez, o diretor de negócios da Effectus, Fabio Luiz Giannattasio, lembra que o processo com resinas bi componentes comportam laminar vidros curvos e diferentes combinações de vidros float.
Além da versatilidade de produção, alguns fabricantes têm mais de um tipo de resina com características especiais. “A resina Kodiguard UV tem característica termo acústica, com isso proporciona uma ótima redução sonora”, explica o representante comercial da Chemetall do Brasil, Ricardo Rocha. Além da versão UV, a Chemetall coloca à disposição a resina UV-HS, especial para vidros blindados. Pela Cytec, Alberto Matera lembra da versatilidade da Uvekol: “Há vários tipos de resinas Uvekol: para proteção acústica, para vidros blindados e para vidros com alta resistência à pressão do vento – comum nos EUA devido aos furacões”.
Já a Foster’s frisa que a base em poliéster é o maior trunfo da resina Fostersglass. Por ter grande elasticidade [segundo o fabricante, chega a 125%], pode ser aplicada em ambiente sujeito a trepidação, sem risco de trincas ou delaminação nas bordas do vidro. “A resina que produzo é à base de poliéster. Essa substância é bem mais viscosa que a acrílica”, declara o diretor da Foster’s, Luiz Abreu. Segundo ele, essa viscosidade maior permite ao produto preencher os espaços vazios e deformações dos vidros com mais facilidade. Ele ainda relata que os vidros laminados com resina bi componente são usados em barcos e tratores justamente por sua resistência á vibração.
Outro defensor das resinas poliester é o prestador de serviços de treinamento em laminação da Foster’s, Sidnei Moreno Peres. Além de ensinar a laminação com resina bi componente aos vidraceiros, ele também é beneficiador. “Tenho muitos clientes de vidros curvos e vidros para barcos. Em vidros impressos a resina também entra bem”, garante. Peres aponta que o EVA e o PVB são películas regulares e sofrem mais risco de delaminação por tensionarem o vidro em situações de vibração. “Fiz vários vidros para barcos [com resina Fostersglass] e não tiveram problema de delaminação. Em alguns barcos russos, tinham obras de arte dentro e usaram vidros blindados na cabine”, conta Peres.
Com rumores de que estaria enfrentando problemas com sua resina, a Cytec garante que tem recebido um número muito baixo de reclamações e reforça que o sistema de cura UV é o mais indicado. “É um equívoco dizer que as resinas Uvekol estão ausentes do mercado”, explica o diretor Alberto Matera. É bom lembrar que as resinas UV são as mais populares, apesar de o custo do maquinário ser maior. “A Uvekol não é como uma resina bi componente, que inicia a cura imediatamente após a mistura. Ela cura somente quando o operador decidir, permitindo que sejam removidas bolhas que eventualmente surgem durante o processo”, esclarece Matera. Vale sublinhar que alguns entrevistados, usuários da resina acrílica [que pediram anonimato], declararam que não há outro método de laminação que substitua a Uvekol e a Kodiguard UV, justamente por já estarem adaptados ao sistema UV e pelo alto investimento em uma linha de PVB ou um forno de EVA – que não traria retorno, considerando o tipo de serviço que praticam hoje.
Marketing direto com o cliente
Quem esteve nas duas últimas edições da Glass South America constatou a ausência de produtores de equipamentos ou componentes para a laminação com resina. Nesse mesmo período de quatro anos os fabricantes de resina estiveram ausentes das revistas especializadas do setor vidreiro. Alguns visitantes interpretaram essa ausência como o reconhecimento de que o produto está em queda, como aproveitaram para afirmar os produtores e representantes de fornos para produção com EVA, que compareceram em peso na edição da Glass 2010.
Os fabricantes se defendem afirmando que a ausência se deve à avaliação de que esse tipo de marketing não está sendo o mais adequado para a manutenção da clientela. O viés que estão adotando é o contato direto, buscando fidelizar o comprador do material. “O approach com o cliente está sendo feito corpo a corpo”, declara o diretor de negócios da Effectus, Fabio Luiz Giannattasio, que vende as resinas bi componente Astrocure.
Os representantes da resina contam que os boatos sobre a qualidade do material não prejudicaram o crescimento dos negócios, mas, sim, o preço do metro quadrado do PVB, que baixou para R$ 9,00, enquanto o EVA chinês pode ser encontrado a US$ 3.00. “Apesar do custo da resina ser maior, os benefícios compensam em determinadas aplicações”, afirma o diretor da Foster’s, Luiz Abreu. Ele disse ainda que o consumo de resinas não está caindo, como se pode pensar. “Alguns arquitetos e engenheiros, inclusive, especificam vidros resinados quando se trata de vidros curvos, laminados de impressos ou temperados”, declara Abreu.
A Cytec também aposta na fidelização do consumidor para se manter em evidência. “Ajustamos nossa estratégia ao marketing direto, em contato pessoal com o fabricante e o usuário final”, esclarece o diretor de vendas e è marketing da empresa, Alberto Matera. Ele também ressalta que a Uvekol é usada por cerca de 100 clientes ativos no Brasil, Peru, Argentina, Chile, Equador e Colômbia.
Ainda compensa investir?
“Se o laminador entrar no mercado convencional do vidro, as margens são limitadas”, explica Sidnei Moreno Peres. Ele garante que, para quem quer entrar no setor de laminação, mas não tem muito capital, o sistema com resina bi componente é o mais indicado. Inclusive porque dispensa a área de trabalho climatizada. “O local deve ser o mais limpo possível, mas admite um pouco de temperatura variável”. Segundo o prestador de serviços, com R$ 5 mil o laminador pode começar a trabalhar com resina bi componente, fabricando de 30 a 40 m² de vidro laminado por dia. “Dependendo da espessura da laminação, o custo por metro quadrado, usando fita de 0,5 mm de espessura, sai R$ 20,00, sem incluir os vidros. Já com fita de 1 mm de espessura, sai entre R$ 34,00 ou R$ 35,00”, calcula Peres. “O retorno do investimento acontece já no primeiro serviço grande. Quando [o laminador] vende 300 m² de vidro laminado, já tem esse retorno. Os 300 m² de vidro é o objetivo”, garante.
O sistema de produção da resina UV é mais caro que o da resina bi componente por necessitar de uma bomba peristáltica e de uma mesa especial [ou forno] para a cura com radiação UV. Os dois equipamentos, juntos, custam mais de R$ 50 mil. No entanto, apesar do maior custo do maquinário, Alberto Matera prevê um aumento do uso da resina UV justamente por seu método de fabricação, que está em dia com o meio-ambiente. “O consumo de energia é baixo, proporcional ao número de vidros fabricados, pois pode-se programar a produção de vários vidros e curá-los de forma programada, permitindo a máxima utilização do equipamento de cura. É uma tecnologia sustentável, com baixo consumo de energia, poucas perdas de material, não emite compostos voláteis”, afirma o diretor da Cytec, concluíndo que a fatia da Uvekol no mercado é a mesma da resina bi componente: não competir com os processos de alta produção, mas, sim, em outras aplicações. “Prevemos um crescimento no uso das resinas Uvekol”, completa, convencido de que o mercado da resina continuará representativo no crescimento esperado para o setor de laminados.