ENSAIOS E CERTIFICAÇÕES DE PRODUTO

Palestra no Enakit aborda importância das normas e dos ensaios para se garantir a qualidade

Michele Gleice da Silva – Diretora técnica do Instituto Tecnológico da Construção Civil (Itec), abordou durante sua palestra no Enakit a importância das normas técnicas da ABNT para garantir a qualidade das instalações. E destacou a importância dos ensaios técnicos em laboratórios nesse processo.

Michele ilustrou sua palestra com vários vídeos mostrando acidentes com placas de vidro que se soltaram de janelas, fachadas ou de fechamentos de sacadas. Ela enfatizou que tais acidentes ocorrem a todos instante e que o Itec recebe diversos relatórios de ocorrências. Como tais acidentes, na maioria das vezes não fazem vítimas e não ganham as mídias televisivas e os grandes jornais, se tem a impressão de que eles não acontecem. “Esses casos acontecem a todo instante, e é por isso que são criadas normas técnicas e que sistemas e componentes passam por ensaios em laboratórios, pois previnem que casos como esses aconteçam, gerando vítimas e, consequentemente, processos civis e criminais”, explica.

A palestrante comentou que existem uma coleção imensa de normas, não só aplicadas ao vidro, mas também aplicadas aos componentes dos kits, seja ele de box, porta, janela, guarda-corpo ou fachada. “Para que um desses conjuntos possa ter o desempenho esperado, os componentes também precisam ter um desempenho específico e um ensaio algumas vezes aborda cada um deles, procurando atender às exigências de várias normas”, explica.

Na palestra Michele abordou mais especificamente quatro normas principais ligadas a vidros e kits: vidros na construção civil (recentemente revisada), norma de esquadrias, norma de guarda-corpos e norma de envidraçamento.

Prevenção

A diretora do Itec comenta que muitos empresários evitam fazer ensaios em laboratórios porque temem que seus produtos não passem, gerando constrangimento. Ela refuta essa ideologia dizendo que o local mais apropriado para que algo saia errado com o produto é o laboratório de testes. “É a partir das falhas que o fabricante irá aprimorar seu produto e dessa forma evitar correr riscos desnecessários de acidentes ou de baixa performance. Porque não é só a questão de acidentes que verificamos. E muitas vezes alguns produtos tiveram sua performance melhorada com uma simples troca de roldana, escova de vedação ou borracha”, explica.

Norma de esquadrias

A norma de esquadrias (NBR 10.821) hoje é aplicada para qualquer tipo de janela, porta ou fachada cortina. E já existe previsão de ser criada uma norma específica para fachadas cortinas, porque apesar da questão da fachada cortina ser principalmente de estanqueidade à água e cargas de vento, que é a mesma das janelas, ela tem algumas características específicas, de ancoragem e de aplicação do vidro que a comissão de normas entende que mereçam atenção especial.

A norma de esquadrias utiliza basicamente o mapa das isopletas, que é oriundo do mapa de ventos (NBR 6123) e muitas outras. Trata-se de um mapa da década de 80 que deverá ser revisado em breve.
A norma de esquadrias ganhou uma quarta parte que trabalha especificamente as questões de acústica e desempenho técnico dos fechamentos, janelas e fachadas. Essa parte foi incluída para atender às exigências da Norma de Desempenho (NBR 15.575).

“Quedas de instalações com vidros são mais frequentes do que se imagina”

Norma de sacadas

Com a criação da Norma de Sacadas (NBR 16.259), publicada em 2014 foram criados métodos de ensaio para esse produto, que não possui o mesmo nível de exigência de performance de uma esquadria, principalmente com relação à questão da estanqueidade. “Não temos em nosso laboratório a procura por ensaios que imaginávamos para esse tipo de material”, relata Gleice. Ela cita que para esse produto é necessário, além do ensaio de cargas de vento e de impacto, o de ciclos de abertura e fechamento, porque o produto abre-se e fecha-se várias vezes e é preciso avaliar o momento correto de substituição de roldanas e componentes.

Norma de Guarda-corpos

A diretora do Itec explica que a atual revisão foi motivada pelos dois acidentes ocorridos recentemente com crianças, um deles na varanda de um hotel e outro no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Nos dois casos as crianças passaram por um vão existente no guarda-corpo.

A segurança de um guarda-corpo é garantida por diversos fatores, que inclui um bom substrato onde ele será instalado, uma boa ancoragem, uma boa fixação, uma boa estrutura, bons componentes e, no caso de guarda-corpo envidraçado, vidro laminado com a espessura correta. “Todos esses itens devem ser analisados em um ensaio, feito com todo o conjunto, porque é o conjunto final que terá de ter bom desempenho”, explica Gleice.

No Itec são realizados ensaios de esforço horizontal e vertical e de impacto. “Temos casos em que os vidros se desprendem totalmente do caixilho, por causa da utilização de vedações que não são apropriadas”, explica Gleice. “Mas não há problema disso acontecer no laboratório, pois ele existe para isso mesmo”, completa.

Norma é o documento estabelecido por consenso e aprovado por um organismo reconhecido, que fornece regras, diretrizes ou características mínimas para atividades ou para seus resultados.

A revisão da norma de guarda-corpos foi abordada também na palestra de Fabíola Rago, que abordamos mais detalhadamente nesta mesma edição da Revista Tecnologia & Vidro.

Norma de vidros na construção civil

Na avaliação de Gleice, a recente revisão da Norma de Vidros na Construção Civil deixou muito claro alguns pontos que davam margem a dúvidas na versão anterior.

Ela cita como principal mudança o fato de que vidros em instalações verticais abaixo da quota de 1,10 m em relação ao piso tem de ser, obrigatoriamente, o vidro de segurança. “Por exemplo, portas de correr duas folhas, portas de giro, todos abaixo de 1,10 precisam utilizar vidro ou temperado, ou laminado ou aramado”, comenta. Ela acrescenta: “Eram frequentes acidentes em salões de festas de condomínios ou locais públicos em que crianças vinham correndo, trombavam com o vidro e se cortavam com os cacos pontiagudos dos vidros comuns. Agora essa situação é irregular, segundo a nova norma.

A norma revisada deixa claro também que no caso de guarda-corpos só será permitida a utilização de vidro laminado, aramado ou laminado de temperados. Não se pode utilizar mais somente o temperado quando houver desnível superior a um metro de altura.

Outra mudança importante na norma, e que não está sendo bastante comentada é que os vidros instalados nas janelas projetantes, basculantes e maxim-ar também precisam ser vidros de segurança. “São as janelas que se projetam além da alvenaria, para evitar que se um vidro quebre dessa janela projetada quando aberta e caia em cacos sobre quem estiver passando”, explica.

Nos debates

Durante as perguntas abertas aos empresários participantes foi levantada a questão das certificações compulsórias (obrigatórias).

Gleice explicou que as normas se tornam compulsórias quando existe avaliação do risco que um produto inadequado pode causar para o consumidor. “Para o Inmetro tornar uma certificação obrigatória tem-se que provar que determinado produto pode impor um grande risco à sociedade, é um processo mais complicado de se obter que a certificação voluntária”, explica.

Também foi perguntada a razão porque alguns questionamentos referentes às normas colocadas em consulta pública são simplesmente ignoradas pelas comissões de normas.
A diretora do Itec explicou que o momento certo de se participar de uma norma é durante sua elaboração. Ela explica o motivo: “Quando vai para consulta pública a comissão é soberana para acatar ou não o que está sendo questionado. E isso acontece por vários motivos, dentre eles, porque o assunto ou argumento colocado já foi fartamente discutido durante a elaboração da norma e chegou-se à conclusão de que ele deveria ficar de fora ou ser tratado da maneira que foi relatado no texto final. Ou porque se trata de assunto ou argumento complexo ou polêmico que exigirá muito tempo para novas discussões, sendo que ele poderia entrar em uma próxima revisão daquela norma ou ainda porque a comissão avalia que o assunto ou argumento é irrelevante.”

As normas asseguram as características desejáveis de produtos e serviços, como qualidade, segurança, confiabilidade, eficiência, intercambialidade, respeito ambiental.

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