O arquiteto não faz nada sozinho. Ele precisa de parceria, de testes, se o projeto é bacana é inusitado.
Em um ambiente descontraído conversamos com Myrna Porcaro, arquiteta e designer de interiores de Belo Horizonte que desde cedo procurou expandir seus limites, tanto no aspecto físico e geográfico quanto no aspecto da ampliação das ideias e conhecimentos.
Sua intimidade com a utilização do vidro chama a atenção e foi um dos responsáveis pela conquista de reconhecimento do setor de design de interiores, pela conquista de mercados em Minas, São Paulo e Miami (EUA), onde mantém seus escritórios.
Confira:
Reportagem: Conte-nos um pouco sobre sua carreira de arquiteta e design de interiores.
Myrna: Vou fazer uma brincadeira, mas acho que minha carreira começou aos 10 anos quando cheguei ao meu pai e falei que iria ser arquiteta. Formei-me em 1986 na UFMG e mesmo antes de me formar abri um escritório com algumas colegas. Projetamos uma loja, uma casa e outros projetos menores. Dois meses depois de me formar eu fui para Paris, na França, onde morei por três anos e me especializei.
Este tempo que passou na Europa foi importante para definir os rumos de sua carreira profissional?
A viagem mudou tudo. Tive uma boa base nos colégios que passei, e na faculdade e o contato com a Europa dos anos 1980 ampliou meus horizontes. Ali vi como aconteciam já os projetos, a dinâmica dos escritórios e como era o olhar sobre a arquitetura no primeiro mundo. E o avanço da tecnologia, os programas de computação, desde o desenhar o projeto até a execução, os materiais e o comportamento. Tudo isto acrescentou para que eu obtivesse um diferencial.
E este diferencial foi importante para você romper os limites do Estado de Minas Gerais e, hoje, até mesmo do Brasil?
As coisas vão acontecendo. Nunca premeditei nada, mas sempre me incomodou ficar restrita ou presa a um só terreno. Ter muitos limites. Então depois de viver na Europa praticamente sem fronteiras, voltei ao Brasil onde me casei, montei uma família, mas sempre viajando muito. E há 12 anos busquei o mercado de São Paulo, até para me manter atualizada, porque no setor em que atua a cidade sempre foi a janela para o mundo na América do Sul.
E hoje você possui três escritórios, um em Belo Horizonte, um em São Paulo e um nos Estados Unidos.
Tenho um escritório em São Paulo há oito anos, mas faz 12 anos que realizo trabalhos lá. E apesar do escritório de São Paulo, e o que abri há pouco tempo em Miami não serem grandes, eles me permitem ampliar minha visão e também ser vista pelo mundo, o que acho interessante.
Você é frequentadora assídua há vários anos das mostras de decoração, esta é uma recompensa pelo seu trabalho?
Com certeza a Casa Cor foi pra mim, no início, muito importante para divulgar meu trabalho. E acho que deveria continuar sendo uma vitrine de talentos. Acho que está um pouco perdida atualmente, mas espero que volte a ser o que era. Em São Paulo este ano eu observei uma retomada do antigo formato e espero que Minas também enxergue isto. Atualmente nem dá muita vontade de participar, tem muita gente nova que pagou, vendeu, conseguiu lugar e não acho que é por aí.
Falando um pouco de materiais, você especialmente trabalha muito bem o vidro, combinando ele com outros materiais. Como você faz isto? Qual a fórmula?
Sou uma pessoa muito transparente, haja vista minha última resposta. Sempre fui e isto tem dois lados. Mas prefiro minha transparência, não sei se isto é alguma metáfora, mas me identifico muito com o vidro e desde que eu entrei na escola de arquitetura tenho tentado administrar e trabalhar cada vez melhor este material, que é sensível, mas que oferece inúmeras possibilidades. E toda tecnologia que conheci em minha pós-graduação em Paris, em grandes obras a gente trabalhava com o vidro de forma revolucionária. Em São Paulo faço detalhamento com grande tecnologia em vidro. A casa que projetei em Paris em um bairro tradicional contrastava com muita madeira e vidro, então o vidro é um pouco responsável. Minha intimidade com este material é um pouco pela minha marca arquitetônica, pelo meu estilo e pela minha forma de ver a arquitetura. E tenho que agradecer a este material, porque sem o vidro eu não teria esta paixão pela arquitetura.
Sempre é bom ter bons fornecedores. Na área de vidros você conseguiu bons parceiros?
Sim, felizmente consegui. E a gente tem aqui em Minas Gerais a Bend Glass que é uma indústria revolucionária. Eu me lembro dos vidros curvos, quando eu comecei a querer utilizar e vi que era possível em uma empresa tão bem montada e que dava segurança para nós arquitetos. Fiz até projetos para mim, e para clientes muito exigentes, com vidros de grande segurança e grande qualidade.O arquiteto não faz nada sozinho. Ele precisa de parceria, de testes, se o projeto é bacana é inusitado. Se é inusitado precisa de laboratório. Precisa ser testado e sem um fornecedor parceiro a gente não consegue este dinamismo e estas novas fórmulas.
O parceiro tem então que aceitar o desafio, entrar junto na ideia e comprar a briga?
O parceiro tem de embarcar no sonho senão a gente não consegue inovar e propor novas fórmulas. Eu gosto de causar impacto, minha arquitetura tem isto. E é o que as pessoas não estão acostumadas a fazer. Alguém pode ter feito, mas não por aqui. Então a gente tem que fazer alguns testes e a parceria é fundamental.
Você tem trabalhado com a marca Guardian, isto tem acrescentado aos seus projetos?
Sim, a Guardian é uma indústria formidável e trabalhando em várias mostras da Casa Cor eu conheci a linha de produtos deles, que a Bend Glass fornece por aqui. Têm os espelhos resistentes a riscos, de várias cores, os vidros que também usamos muito para proteger tampos de móveis, que não riscam. Tudo isto só faz enriquecer o mercado e outros designers usufruem também. Mas, logicamente, os clientes são os que ganham mais.