QUÍMICA
A serviço do Vidro
A evolução da indústria química
beneficia também ao setor vidreiro,
da produção do material
até a instalação no cliente final
A química moderna
está presente em todos
os ramos de atividade
do ser humano.
Não é diferente com o
segmento dos vidros
Todos os setores produtivos necessários para a sobrevivência do homem atual evoluíram com a utilização das inovações químicas. O setor do vidro não é diferente. Veja alguns exemplos:
- Adesão, vedação e impermeabilização: silicones, selantes, colas e chumbadores químicos.
- Colagem vidro-vidro: cola UV.
- Fixadores de espelhos: fixa-espelhos.
- Limpeza e proteção contra manchas e sujeiras: limpa-vidros, sistemas para remoção de riscos, películas protetoras com utilização da nanotecnologia.
- Polimento: óxido de cério (abrasivo).
- Proteção de bordas: protetores químicos especiais.
- Selantes à base de água: Pesilox e outros.
- Tintas e vernizes: esmalte cerâmico das serigrafias, tintas para pintura do vidro com aplicação por pistola.
Em sua última edição de 2015, a revista Tecnologia & Vidro procurou enfatizar tais produtos e sanar as dúvidas dos vidraceiros e transformadores de vidros sobre alguns deles. Acompanhe!
Quando
buchas e parafusos
não resolvem
Bucha perfurada para fixação em paredes ocas da Âncora
Instalar vidros, guarda-corpos, divisórias, fechamentos de varandas e até boxes para banheiros pode se tornar uma tarefa ingrata quando somente buchas e parafusos comuns não são suficientes para garantir uma fixação firme da estrutura que irá receber o vidro, seja ela de perfis de alumínio, suportes de aço ou ferro. É nesses casos que podem entrar em cena os fixadores químicos.
Segundo Rafael Bernardi, do setor de marketing da empresa Âncora; e Leandro Bueno, do setor de marketing da empresa Fischer; os chumbadores químicos são indicados para todo tipo de obra onde as cargas solicitantes do sistema normalmente são elevadas, com ou sem influência de cargas dinâmicas, podendo ser utilizado em furos de grandes diâmetros.
Já Bruno Lima, do setor de marketing da empresa Hilti, explica que a maior capacidade de carga é justificada pela distribuição ao longo do embutimento, refletindo em uma área maior de concreto e evitando, assim, uma concentração. Como vantagens há a máxima resistência do chumbador. Os chumbadores químicos são frequentemente utilizados em fixações de elementos estruturais metálicos (pilares em aço, vigas etc.), aplicações em parede diafragma, fachadas, além de aplicações em furos úmidos ou submersos.
Com o relativo recente ingresso dos vidraceiros no ramo de montagem de guarda-corpos, que exigem uma instalação capaz de suportar altas cargas de esforço com risco de vida, os fixadores passaram a fazer parte dos itens básicos desses profissionais.
Paredes que “esfarelam”
Os fixadores químicos, entretanto, não estão restritos a vidraçarias que montam fachadas ou guarda-corpos. Eles podem fazer parte dos itens que os demais vidraceiros levam em sua mala de ferramentas, pois resolvem as conhecidas situações em que as paredes de casas velhas ou novas mal construídas esfarelam, soltam areia e não seguram buchas e parafusos.
Rafael, da Âncora, explica que os fixadores são utilizados inclusive em rochas para escalada em algumas ocasiões em que a mesma apresenta esta situação de “esfarelar”. A utilidade dos fixadores em paredes desse tipo é compartilhada por Leandro da Fischer. Entretanto, os dois são unânimes em afirmar que, para que a solução funcione com segurança, é muito importante que o furo seja muito bem limpo, pois a fixação química depende 70% dessa limpeza, caso contrário o material não irá aderir à base, fazendo com que a sujeira crie uma camada externa à resina impedindo a fixação.
Bruno, da Hilti, discorda: “O substrato deve ser compacto e suficientemente rígido para suportar estas cargas e, caso esteja esfarelando, a resina química não conseguirá transferir efetivamente as tensões da barra para este, e a fixação com a ancoragem química não será eficiente”.
Paredes ocas
Os fixadores químicos são úteis também para paredes de blocos e outros tipos de paredes ocas. Nesses casos devem ser aplicados aliados a uma bucha especial que, dependendo do fabricante, é chamada de “camisa de nylon” ou “bucha perfurada”.
Após fazer o furo, o responsável pela aplicação deve inserir a camisa ou bucha perfurada no furo, aplicar a resina e inserir o prisioneiro rotacionando. Dessa forma o produto vaza pelos furos e preenche parte das cavidades. Nesse tipo de instalação, a resina química cria uma base maior do que o furo do chumbador, promovendo a transferência de cargas da barra para o substrato.
Custo e durabilidade
Um tubo de chumbador químico, contendo aproximadamente 400 mL, custa em torno de R$ 80,00 com um bico misturador para sua aplicação. O tubo pode ser fechado e reutilizado posteriormente, ou até a validade do produto, havendo a necessidade somente da troca do bico misturador.
A troca do bico misturador é necessária porque ali é feita a mistura da resina principal com o segundo componente (catalisador), que irá dar início ao processo de cura química.
O tubo, mesmo após aberto, se conservado em local apropriado e temperatura ideal, irá durar todo o tempo da validade indicado na embalagem, a partir da data de envase, que pode chegar até a 36 meses.
Cola UV
As colas que curam quando expostas à radiação UV, conhecidas simplesmente como Colas UV, podem ser utilizadas nas colagens vidro/vidro, vidro/metais, vidro/resina, vidro/madeira e vidro/plástico (alguns tipos).
As colagens UV são normalmente utilizadas em decoração – na fabricação de móveis, prateleiras, expositores e outras peças que exigem ótimo acabamento.
Segundo Margô Grimberg, diretora da Good Goods, única revenda especializada na colagem com cola UV no Brasil, a cola UV deve apresentar resistência e transparência na conclusão de um trabalho de colagem. “Considero essas características essenciais para considerarmos uma cola como de boa qualidade. Infelizmente, nas colas desenvolvidas no Brasil essas características ainda não foram atingidas”, avalia.
Segundo Margô, a utilização de cola UV na decoração supera, em muito, os resultados obtidos nas colagens com silicone, pois a limpeza que observamos, nas peças coladas e prontas, são extremamente melhores.
Para que a colagem UV seja bem realizada é necessário prestar atenção em alguns fatores, entre eles: lapidação do vidro a ser colado, tempo de cura, validade da cola, utilização de lâmpada UV correta e limpeza do vidro. “Levando-se em conta esses cuidados, a colagem dificilmente descolará”, explica.
Na produção de aquários é possível a produção com cola UV; porém, é necessário selar depois por dentro com silicone para evitar que a cola UV entre em contato com a umidade. E por falar em umidade, pode-se utilizar colagens UV em prateleiras ou em outros objetos para banheiro, sem que a resistência seja afetada. Isto porque nesses casos não há contato direto e constante com água, e o vapor que se produz com um banho não é suficiente para soltar a colagem de tais peças.
Quanto ao custo, Margô defende que não podemos afirmar que a colagem UV seja cara. Trabalha-se com uma quantidade mínima de cola. E não é a quantidade utilizada que vai fazer com que a colagem fique mais ou menos resistente – o que faz a diferença é sua qualidade e a adoção dos procedimentos corretos.
Sistema de ampola
Existem fixadores químicos fornecidos também em ampolas descartáveis de vidro. Elas são colocadas no furo feito pela broca e após a limpeza necessária. A barra roscada é, então, levada para a profundidade de embutimento necessária, usando um martelete com a função martelo + rotação. A ampola de vidro é destruída e, desse modo, a resina, o endurecedor e o agregado de quartzo são misturados uniformemente no espaço entre a barra roscada e a parede do furo.
Selantes e silicones
Segundo Eduardo Mano, responsável pelo setor de marketing da Tekbond, o silicone é um adesivo com função selante. “De uma maneira simplista, podemos dizer que todo material que tem como objetivo preservar o contato com o ar e a umidade é um selante. Neste sentido o silicone cumpre perfeitamente esta função”, explica.
O selante deve isolar um ambiente com eficiência contra a passagem de ar, umidade ou vazamento de líquidos, selando a peça ou local onde for aplicado. Para que ele cumpra com excelência este papel, características como flexibilidade, capacidade de adesão, resistência a variação de temperaturas são características que se fazem indispensáveis.
São diversos os tipos de selantes comercializados mundialmente, dentre eles se destacam produtos como o adesivo silicone, adesivo de PU (poliuretano), espuma expansiva, adesivos semissecativos, adesivos acrílicos, além de travas químicas que também executam esta função.
Trata-se de uma grande variedade de produtos para atender corretamente a cada necessidade, adequando fatores como resistência, local de aplicação, temperatura de trabalho e – até mesmo – custo do produto.
Eduardo cita como exemplo que os adesivos de silicone acéticos e neutros não realizam a função de sustentação estrutural. Para estes fins, deve-se utilizar produtos especiais. Já para o motor de um carro, por exemplo, é necessário o uso de um silicone de alta temperatura.
Caso seja necessário fazer uma vedação em ambiente que será exposto à luz direta do Sol, os silicones são produtos que oferecem as melhores propriedades para resistir aos raios UV. Mesma característica dos adesivos híbridos.
Thiago Sena, do setor comercial da Adespec destaca que os silicones acéticos não evitam a proliferação de fungos, como é divulgado no mercado. “A evaporação do ácido acético causa uma retração de até 25% do volume do silicone, criando espaços entre o produto aplicado e o substrato em um ambiente propício (ambiente úmido) para a proliferação de fungos e bactérias. O ideal seria utilizar produtos que não retraiam para evitar a formação desses espaços”, recomenda.
Protetor de bordas de espelhos
Como o nome já sugere, o protetor de bordas deve ser aplicado antes da instalação para proteger a borda dos espelhos de riscos e arranhões, do ataque da umidade e da ação de produtos químicos, evitando a oxidação.
Negligenciado pela maioria dos vidraceiros, esse procedimento poderia prolongar a vida útil dos espelhos. Também poderia ser aplicado pelos próprios transformadores, como diferencial competitivo. Segundo Marcelo Ponciano, do setor de marketing da Adespec, tal resultado poderia ser obtido através da aplicação de esmaltes ou vernizes compatíveis com a borda do espelho; porém, o protetor de bordas é o processo mais simples. Ele tem um custo que varia de R$ 22,00 a R$ 29,00 por tubo.
Fixadores de espelhos
Sobre os fixa-espelhos, Eduardo explica que não se trata somente de publicidade. Segundo ele, a escolha desse adesivo é feita com base em critério técnico, analisando o local e o substrato onde o produto será aplicado. Segundo ele, quem instala um espelho com o uso de um silicone acético comum – por exemplo – está sentenciando a peça a manchas certas. “A camada refletiva presente nos espelhos é um material extremamente delicado e reativo. O uso do EspelhoFix, da Tekbond, é indispensável para o profissional que não deseja ter manchas no espelho, mesmo depois de muito tempo”, diz. Sena, da Adespec, por sua vez, argumenta que o Fixa Espelho foi desenvolvido para colar espelhos, mas pode ser utilizado em outras colagens semelhantes, pois é um produto versátil e adere bem em móveis de madeira, metais, paredes de alvenaria, Drywall e placa cimentícia. “O Fixtudo tambem cola espelhos, mas de tamanhos menores, pois a embalagem de fixtudo contém 20g. Já o Prego Líquido, por ser uma cola base água, precisaria de mais tempo para atingir a cura total, mas também é possível realizar a colagem”, explica.
Limpa-vidros
Segundo Gabriel Leicand, da Abrasipa, a sujeira no vidro pode ser desde um pequeno depósito de poeira, que pode ser removido com limpa vidros caseiros; até depósitos calcários e minerais, ataques ácidos e irisações. “O vidro tem a superfície cheia de pequenos poros. Com o passar do tempo a sujeira penetra nesses poros, ficando mais difícil de ser removida”, explica.
Além disso, cada vez que um vidro é molhado a água evapora, deixando na superfície uma pequena camada de minerais e ácidos contidos nela. “Com o tempo esse depósito reage com o vidro, deixando manchas brancas ou reflexos em arco-íris. Essas manchas só podem ser removidas com limpa-vidros especializados para vidraceiros”, explica Gabriel.
No caso do Limpa-vidros ProClean, da Abrasipa, ele não é ácido, não atacando o vidro nem o aplicador do produto.
Da mesma forma, o produto limpador da Adespec evita produtos abrasivos com cheiros fortes, nocivos, que atacam a pele e a própria superfície do vidro mudando seu aspecto com o tempo.
Selantes à base de água e à prova de água
Sobre os selantes à base de água, Eduardo explica que são produtos que não agridem o meio ambiente, pois não possuem solventes químicos fortes. Também por esta característica, podem ser aplicados em uma gama maior de substratos – mesmo aqueles mais delicados –, uma vez que a água não agride essas peças.
Os adesivos de silicone das linhas Neutra e Base D’água possuem baixo (ou quase nenhum) odor característico do ácido acético e são especialmente indicados para serem aplicados em locais fechados. O silicone com ácido acético possui menor curso e pode ser aplicado sem problemas em ambientes abertos.
Eduardo explica que todos os produtos Tekbond possuem características antifungo e – desde que sejam respeitadas as indicações da embalagem – não sofrem alteração com o passar do tempo. Ele lembra que nenhum deles é recomendado para imersão contínua em água.
Essa limitação não se aplica, entretanto, ao Poliéter Siloxano (Pesilox), inventado pela engenheira química brasileira Wang Shu Chen, que desenvolveu produtos à base de água com grande eficiência, em sintonia com novas tecnologias utilizadas na construção civil. Criou primeiramente o Prego Líquido (de cura demorada) e logo depois o Pesilox Fixtudo, de secagem rápida e que, como o nome diz, cola tudo, ou quase tudo. Também cola azulejos quebrados de piscinas e faz reparos de vedações em visores de piscinas sem que elas precisem ser esvaziadas, uma vez que é à prova d’água.
A fórmula do Pesilox evidentemente é um segredo, mas trata-se de um adesivo à base de poliéter siloxano, capaz de aderir e selar em condições que outros tipos de selantes não atendem. Entre as propriedades diferenciais estão: adesão em áreas úmidas, não retrai após a cura, resistência ao cisalhamento quatro vezes maior que a do silicone. Esse desenvolvimento foi realizado em parceria com a USP (Universidade de São Paulo), FAPESP (Fundo de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo), FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Protetores de superfícies de vidros
Para proteger a superfície limpa, o produto da Adespec diminui significativamente o acúmulo de materiais e sujeiras nas superfícies aplicadas e, consequentemente, os vidros permanecem com aparê