Utilização inteligente dos vidros (parte 2) Arquitetura Hospitalar

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O vidro como aliado da cura

what-doctors-say2Construir hospitais é um desafio para qualquer arquiteto. É preciso entender e atender as necessidades de vários públicos diferentes circulando em um mesmo edifício. Todos eles com questões especiais e outras comuns, incluindo privacidade, descanso, higienização e alimentação.

Os vidros utilizados nesse segmento precisam ser bem pensados e planejados, assim como os vidros para Academias de Ginástica, que foi o tema que a aberturareportagem da Revista Tecnologia & Vidro abordou nesta mesma seção em sua última edição.

Para abordar a utilização inteligente de vidros em hospitais, entrevistamos a arquiteta Paula Fiorentini, da Fiorentini Arquitetura, empresa familiar que há mais de 40 anos é especializada em projetos de hospitais, tendo participado da construção de mais de 200 no Brasil; e o arquiteto Siegbert Zanettini, referência na aplicação de novos materiais há quase 50 anos.

Experiência pessoal

Siegbert Zanettini relembra que, quando ainda era estudante de arquitetura, teve que ficar internado em uma Santa Casa de Misericórdia paulistana. Ficou horrorizado. De seu leito, em ambiente fechado, escuro e sem ventilação adequada, só via problemas. Presenciava um paciente morrendo, outro gemendo, e o clima tenso causava ansiedade em todos. Considerou tudo aquilo como uma tortura e sabia que algo estava errado. “A área hospitalar no Brasil não tinha muita tradição, porque era derivada das iniciativas de padres e freiras que não se preocupavam com a estética e a questão da circulação”, explica.

Os dias passados naquelas situações difíceis serviram de referência para o arquiteto, quando, em 1968, foi contratado para projetar o Hospital Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo (SP). Nesse projeto considera-se que foi lançado o vidro temperado no Brasil, pois foi a primeira obra de maior porte que utilizou esse material em abundância. Ali os vidros foram utilizados nos boxes de atendimento e também nas entradas dos setores. “Assim ficou muito marcada a possibilidade de, entrando no hospital, os usuários terem visões largas dele, não apertadas, porque essas divisões eram de vidro e davam sensação de amplitude, além de permitir maior luminosidade”, explica.

Paralelamente passou a usar vidros com cores em painéis de pintura, que se tornaram constantes em seus trabalhos. “Em toda obra faço um painel meu, e são painéis alegres que eu mesmo pinto, como uma assinatura de nossos trabalhos”.

Ventilação

Com o surgimento dos sistemas de ar-condicionado, a situação melhorou um pouco nos hospitais. Porém, Zanettini observou que esse recurso era extremamente oneroso e, como nessa época já vinha buscando a ecoeficiência, passou a defender a utilização de janelas ventiladas em hospitais, excetuando-se as áreas de UTIs e centros cirúrgicos.

Com o sucesso das inovações em ventilação e iluminação natural, houve economia de energia e, pesquisando sempre novos materiais, chegou a diversas soluções inovadoras que, inclusive, reduziam o desperdício de materiais e o tempo de execução das obras. Tais soluções incluíam a utilização de vidros de diversos tipos.

Recentemente, o escritório de Zanettini – em parceria com a Cebrace – construiu, em Belo Horizonte, o maior hospital do Brasil, com 70 mil metros quadrados, todo em estrutura metálica e vidro. O arquiteto explica o motivo da escolha: “Aço e vidro casam-se muito bem. Conversam muito bem. É só mandar vir pronto, não tem trabalho de obra. E como é tudo planejado, profundamente detalhado, essas coisas não têm conflito. Porque se começa a ter conflito é ruim”, explica, acrescentando o fato de que a obra foi terminada dentro do prazo, pouco antes da Copa do Mundo de Futebol.

Vidro certo no lugar certo

Engana-se, porém, quem pensa que Zanettini é um defensor incondicional do vidro. Ele explica que sempre defendeu, inclusive nos mais de 40 anos em qHospital Sao Luiz Analia Francoue foi professor universitário, que cada material pode ter desempenho correto e bom; mas também pode ser péssimo, dependendo da aplicação, ou de como é colocado. “Se eu pegar um vidro laminado ou temperado transparente e colocá-lo numa fachada poente, fica horrível. Vira um forno lá dentro. Porque o vidro não tem massa para segurar o calor. Isso é um equívoco muito grande. Por mais que se usem vidros especiais ou se cumpram todos os processos de instalação, é preciso fazer sombra externa ou a fachada voltada para o sul, sudeste ou sudoeste. Aí sim ela terá um papel correto e importante”, defende.

Para Zanettini, a principal função da arquitetura é proporcionar conforto. “Faça a criação que quiser, mas a arquitetura é feita para servir ao homem – não é uma escultura. Tem que atender quem está lá dentro. Em hospital é exponencial essa questão. Deve-se pensar em todos. Não só nos pacientes; tem médicos, funcionários além das pessoas que acompanham os pacientes”, argumenta.

Como exemplo de descaso, o arquiteto conta que em algumas Santas Casas os médicos dormem nos seus automóveis, porque não existem salas com quartos para eles no hospital. “Isso é um problema do brasileiro integral, no seu todo, que não dá importância à tecnologia e ao conhecimento”, diz.

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A importância do vidro

Paula Fiorentini, por sua vez, considera que o vidro é um material muito tecnologiahospitalimportante na arquitetura como um todo e, inclusive, na arquitetura hospitalar: “Ele é de grande utilidade no meu dia a dia como arquiteta especialista em hospitais. Consigo aplicá-lo tanto nos meus projetos de atenção e complexidade primária até nos de alta complexidade, como solução para as questões térmica e acústica e, além disso, o material tem propriedades que são únicas”.

Mais que conforto

Segundo a arquiteta, planejar a utilização dos vidros em um hospital é mais complexo que somente pensar no 55ff06db2b486conforto dos pacientes. O estudo da aplicação do vidro está muito mais associado na inserção solar que esse prédio vai ter na fase de implantação no terreno. “A face que se teria que sombrear mais, devido ao excesso de radiação solar, se for usar vidro nela teremos duas alternativas: ou usar um vidro com alta refletividade, bem espelhado, com fator solar alto, para barrar a energia solar no vidro; ou sombrear esse vidro sem contar com suas próprias características – ou seja, utilizando elementos externos que bloqueiam a incidência solar antes que ela chegue no vidro, como brises ou utilizando algum sombreamento do entorno”, defende.

Em seguida Paula acredita que é preciso pensar na área dos pacientes, que é a mais complexa do hospital, porque nela é preciso dosar a intensidade solar para conforto dos internados. “Estes, às vezes querem dormir, com pouca luz, ou então, bem descansados, querem luz total e visão do exterior. Então o vidro tem que, junto com a caixilharia, dar essa condição de flexibilidade nessas áreas de permanência. Muitas necessitam de persianas insulada entre vidros ou alguns tipos de caixilhos que permitam esse controle e possibilidade de dar luz total ou reduzir essa luz à penumbra”, explica.

Capex vs Opex

A questão da higiene é muito pensada, e quando se estuda sobre vidros e esquadrias em hospitais é preciso pensar na Hospital Albert Einsteinquestão do custo de aquisição desse material. Paula explica essa relação: “Não podemos especificar um material que o cliente não tenha condições de comprar, mas é preciso pensar no custo da operação, que inclui higiene e manutenção do hospital. Então, quando especifico um caixilho, se coloco brise externo tenho que pensar em como vou higienizar esse componente e também a parte interna do prédio. O custo de aquisição, o Capex, que é o valor de compra do material; e o custo de operação, que é o Opex; são duas questões importantes. Para manter é a vida inteira, por isso essa equação precisa ser muito bem calculada e às vezes um investimento maior na construção se paga em pouco tempo de operação”.

Manutenção cara

Segundo Paula, seus clientes estão cada vez entendendo mais a importância do custo da operação, porque estão doctor-patientsentindo na prática economias que não deram certo. Os hospitais sustentáveis exigem investimento inicial maior em tecnologias, para que a conta de água e energia seja menor. “Eles entendem isso porque mexe no bolso. A relação nesse ramo é que em cada ano de operação de um hospital gaste-se do que se gastou para construí-lo. Os clientes têm valorizado e adotado essas novas tecnologias porque é muito oneroso você manter um hospital”, explica.

Paula tem acompanhado a evolução do vidro nos últimos dez anos, e considera que este não é importante somente na questão térmica, mas na questão acústica também. “Antes, só os hospitais mais requintados possuíam UTI com boxes de vidro. Hoje em dia a gente utiliza esses boxes até mesmo em hospitais públicos”, comenta. A arquiteta acrescenta: “Aí volta a questão do valor intangível. Quer dizer, o vidro é mais caro que cortina, mas tem até a questão da parte operacional. Muitos fabricantes de vidro têm validado produtos comigo, e eu sou fã desse material porque ele me ajuda a promover um dos aspectos mais importantes no projeto de um hospital, que é a humanização, tanto a humanização do paciente quanto a do operador”.

Paula considera o vidro insulado (envidraçamento duplo) e dotado de persiana interna uma solução ótima por ser bastante flexível, assim como tem acompanhado vidros com impressões digitais que são soluções ótimas para promover o sombreamento necessário e valorizar o aspecto lúdico nos hospitais infantis. Tais produtos, entretanto, às vezes esbarram no alto preço e seus clientes optam por soluções com melhor custo-benefício.

Similaridades com hotéis

A reportagem da revista Tecnologia & Vidro pediu para Paula comparar as similaridades entre os projetos modernos Sao-Camilo-Nelson-Kon05-(21)de hospitais e hotéis. A arquiteta cita que vê similaridade na repetição de andares de internação, até mesmo na disposição dos banheiros nos quartos – e nas áreas dos átrios, que geralmente são bem decorados, iluminados e com pés-direitos duplos ou triplos. Ela descreve: “É intencional essa semelhança porque parte desses setores dos hospitais querem lincar ao aspecto menos assistencial, traumático e dolorido. Então, ao passar pelo átrio de um hospital, que é área pública, quem acompanha um paciente às vezes desfruta de uma área majestosa, em alguns até tem alguém tocando piano ou violino, ou até mesmo exposições de arte. É uma forma de, por alguns minutos, desvincular essas pessoas de seus problemas”. Ela cita, porém, que a similaridade para por aí, e descreve: “Por outro lado, o hospital tem uma questão de almoxarifado, farmácia, cozinha industrial, tratamento intensivo, laboratórios, setor de diagnósticos, área de cozinha industrial e outras que o diferencia bastante de um simples hotel”.

Assessoria em vidros

Tanto Zanettini quanto Paula afirmam que são bem assessorados na gestaohospitalar-hospitaisclassificacaofinanciamentoregulacaoefinalidadeespecificação dos vidros mais adequados aos seus projetos. Dos fabricantes ou dos caixilheiros recebem total atenção e com eles têm desenvolvido parceria direta para o fechamento das obras. Zanettini, inclusive, contou que uma fabricante de vidros lhe doou todos os vidros laminados transparentes para montagem de seu escritório em São Paulo recentemente, após ter fechado com eles o projeto de construção de um grande hospital.

Para mais informações:
www.arquiteturafiorentini.com.br
www.zanettini.com.br

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